Bem, vou começar pelo fim, e não se trata de nenhum spoiler,
já que a volta por cima da autora está em todos os sites, resumos, até na aba
lateral do livro, portanto, sem estresse. :P
Sem dúvida uma história de superação. Constance deu a volta
por cima em grande estilo. Meu único problema com o livro é que, diferente de
alguém que se supera após uma doença, ou após um acidente ou a morte de alguém,
Constance precisou superar a maldade de uma pessoa. Que era, simplesmente, sua mãe.
Então, claro, fico felicíssima pela autora, achei uma lição de vida a história
toda. Mas, ao mesmo tempo, muito triste, mesmo assim, pois como pode uma mãe
ser tão ruim? Mas, agora que o desabafo acabou, vamos arrumar a resenha:
Constance era chamada de Clare no começo de sua vida. Isso
aliás, quase lhe dá um problemão no final do livro (não vou contar, isso sim
seria spoiler). Sua mãe teve muitos
filhos, entre naturais e uma adotada, de dois relacionamentos. Clare/Constance
é filha do primeiro deles.
Mas, Carmem (a criatura-mãe) não parece nutrir um grande
amor pelos filhos. Muito menos por Clare/Constance, por quem, aliás, parece
nutrir ódio. A autora conta que, aos onze anos (!) procurou sozinha o Serviço
Social, buscando sair de casa e se livrar do jugo da mãe. Ela ainda desenvolveu
caroços nos seios por causa dos frequentes beliscões que a mãe lhe dava, como
forma de castigo. Perdeu cabelos, ficou trancada sozinha em porões, foi
surrada, humilhada, desenvolveu enurese (falta de controle na bexiga, ela fazia
‘xixi’ na cama mesmo com o avançar da idade), e até tentou se matar, ainda
criança. Bebeu alvejante, pois disse que leu na embalagem que aquilo servia
para matar germes (e a mãe dizia que ela era como um).
Não acho que a maternidade seja algo inato e me irrita
profundamente aqueles que acreditam que uma mulher só se completa sendo mãe, ou
aquelas coisas machistas que a gente ouve quando diz que não pensa em ter
filhos: “ah, mas você vai querer daqui a pouco”, “quando você olhar para a cara
do seu, vai apaixonar” ou o pior de todos: “quem vai cuidar de você quando
ficar velha??” Portanto, sem essa de achar que a mãe era obrigada a ser aquele
modelo de família de comercial de margarina. Acontece que Carmem era uma coisa
a mais. Não é questão de ter ou não esse tal de ‘instinto maternal’. É a
questão de ser uma pessoa muito ruim. Um ser humano horrível e, ao que parece,
mais terrível ainda com Clare. Ela simplesmente não tinha que ter tentado ter
filhos, ela nunca foi mãe, não achei que sequer ela fez um esforço, na verdade,
era tão ruim, achando aquilo tão normal, que não me parece que chegou a se
questionar um dia sobre qual seria o papel de uma mãe para as crianças,
diferentemente do que ocorre no livro “Precisamos falar sobre Kevin”, sobre o
qual já falei aqui.
A linguagem do livro não é muito rebuscada. Talvez porque
Constance não seja uma escritora, também porque o livro conta a infância dela,
a linguagem acompanha a idade. E, assinalando outro item, o sadismo de Carmem é
repetitivo. Todos os dias é a mesma tortura, alguns, em especial, ela era pior.
Então, achei agonizante ler o livro, quem gosta de ler uma tortura que não tem
fim?
E, para finalizar, apesar de Constance ter dado uma senhora
volta por cima, se tornando juíza, bem sucedida, claro que ficaram uma série de
questões pendentes. Primeiramente, ela se submeteu a uma série de cirurgias
plásticas quando adulta. Bem, quem sou eu pra dizer que sou contra, sou total a
favor (já até fiz), mas em entrevistas, ela mesmo disse que acha que pode ter
sido uma influência da mãe, uma tentativa de deixar de ser “feia” (olha, não
estou julgando ela ter feito, fico triste de ver até onde a mãe dela chegou a
atingí-la). Além do mais, no cumulo da minha revolta, ainda fico sabendo que
Carmem a processou por ter contado essa história. Alegou ser mentira e, apesar
de tudo que já fez, processou a filha por difamação (também não é spoiler do livro,
sosseguem, isso a gente lê na internet). Em mais um desabafo (o último,
prometo), posso dizer que: bem feito para Carmem. Perdeu a causa. O júri reconheceu
que a autobiografia de Constance era verdadeira, pois ficou evidenciado as
cicatrizes, houveram relatos médicos e testemunhais.
Portanto, não é um livro bom de ler, no sentido de ser
agradável. É muito triste saber que alguém passou por isso, e não é nem um
pouco fácil ler o que Carmem fez com a filha. Mas muito bom exemplo de
superação, de saber que, apesar dos maus tratos, é possível ser forte e superar
os obstáculos da vida com louvor.
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Feia, Dona Carmem???? Onde?!?!?!? |
Eu adorei seu blog, adorei os livros que vc fez resenha, comprei FEIA e estou esperando chegar ansiosamente para ler... gosto de indicação de livros desse estilo, vc poderia ter uma núvem de tags (marcadores) na barra lateral ou embaixo no blog pra gente clicar e ir direto para os posts... bjos <3
ResponderExcluirOlá sou Daniele tenho 34anos e o q temos em comum...uma mãe tóxica...q agora ganhou a guarda dos meus filhos alegando maus tratos, e a justiça acatou...isso já está fazendo quase 2 anos lutei com todos os meus recursos...e tudo foi em vão...pesquisando do assunto....achei vc...eu ja tinha me afastado dela e levava minha vida... Agora ela me força estar perto dela...a história é longa...gostaria muito q a justiça percebesse q nem toda mãe é boa.
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