Mais um que levei pela capa,
depois de passar pela livraria, olhar, não levar, passear de novo, olhar, não
levar...
Mariana descobre que está grávida
e, assim que vê as listas azuis no teste de gravidez, seu primeiro pensamento é
sobre a necessidade de ajustar as contas com sua mãe, para que ela própria,
possa viver a maternidade tranqüila.
À partir de então, passamos a ver
Mariana menina, contando suas primeiras lembranças sobre vivências com sua mãe,
Helena.
O relacionamento é conturbado.
Helena é uma mulher forte, e Mariana a teme, a admira, não quer magoá-la, quer
dar e receber atenção. Mas a mãe é fechada, muitas vezes, rude e parece
ressentir-se do relacionamento da filha com o pai, Tito.
Mariana, por sua vez, não entende
a raiva que a mãe demonstra quanto ao seu relacionamento com o pai, esse sim,
amoroso, atencioso... além disso, a filha sente uma enorme diferença no
tratamento dispensado pela mãe à ela, em comparação ao seu irmão, Gustavo. Aos
olhos de Mariana, Gustavo sempre foi mais querido pela mãe, suas falhas e erros
perdoados, seus pedidos de atenção, atendidos.
O livro vai narrando o
crescimento de Mariana, e o desenrolar de sua vida familiar, infância, adolescência
e vida adulta, até o fatídico teste de gravidez. Nesse relato, não só surgem os
casos de Mariana, mas também acontecimentos entre seus familiares e que, por óbvio,
refletem na menina.
Achei o tema interessante, e que
tinha muito potencial, podendo ser desenvolvido profundamente. Mas a expectativa
inicial logo se desfez, pois achei o livro raso.
Algumas coisas chegam a ser
irritantes, de tão didáticas. Quando o livro trata de temas como dependência química,
ou aborto, por exemplo, há o relato de Mariana, e logo em seguida, a personagem
desanda a explicar pseudo-cientificamente, o que estaria acontecendo. Um
exemplo: fulano usava cocaína. Cocaína é uma droga, apresentada como um pó
branco, geralmente inalada, etc. (estou exagerando, mas esse é o princípio).
Além disso, em diversas passagens
que deveriam ter uma carga dramática maior para a personagem, é narrado
superficialmente, achei que faltou densidade. A autora quis falar de vários
temas, durante a vida da personagem, e então, em nome da quantidade, deixou um
pouco a qualidade de lado.
Mas talvez esteja sendo um pouco
rígida, porque trata-se de um livro voltado ao público jovem, e maior
profundidade em alguns temas poderia incomodar. Enfim...
Outro ponto que me desagradou um
pouco é que, nesse livro, também vi errinhos bobos no português, ou seja,
faltou uma revisão mais atenciosa (e olha, juro que não saio procurando erros
durante a leitura). Quer exemplo? Bem, me foge o número da página agora mas,
numa frase, está escrito “nos braço”. Desnecessário.
Indicaria o livro, com todas
essas ressalvas, por um único motivo: durante a leitura, lembrei-me de uma série
de acontecimentos, durante a minha vida, entre minha mãe e eu, que eu sequer
lembrava que tinham acontecido, brigas bobas, outras nem tanto, e isso me fez
pensar em uma outras coisas, que dizem respeito ao nosso relacionamento, ainda
mais porque, no meu caso, minha mãe está em tratamento, para se livrar de um câncer
(esclarecendo: meu relacionamento com minha mãe é incrivelmente bom, sem
problemas e traumas, e até onde posso afirmar, mamãe está bem, seguindo firme e
forte).
Serve para dar mais valor à
algumas coisas, e a ver que, nem sempre, a outra parte está errada (Mariana
acaba, após análise, reconhecendo que muitas de suas atitudes também estavam
erradas, e acabavam por repelir a mãe).
Até a próxima!
Update: Encontrei pela net uma crítica semelhante a minha, e que acrescenta um ponto muito relevante: a não adequação do tempo narrativo - primeira pessoa - ao modo como a história foi contada. Uma boa resenha, aqui
Update: Encontrei pela net uma crítica semelhante a minha, e que acrescenta um ponto muito relevante: a não adequação do tempo narrativo - primeira pessoa - ao modo como a história foi contada. Uma boa resenha, aqui