quarta-feira, 11 de abril de 2012

Quase Noite - Alice Sebold


Uma filha mata a própria mãe, demente. E diz que, no fim das contas, isso não pareceu tão difícil de realizar. Esta é Helen, protagonista de Quase Noite, outro livro de tema denso de Alice Sebold. Esse livro conta as 48 horas da vida de Alice, entre acontecimentos do presente e lembranças de seu passado, o que a levou a cometer o matricídio, e como ela se comporta desse momento em diante. O livro, desde início se mostra chocante, e o que disse até agora está longe de ser um spoiler, veja a abertura da leitura:
No final das contas, matar minha mãe foi bem fácil. A demência, conforme desponta tem o poder de revelar o âmago da pessoa afetada. O âmago de mamãe era podre como a água fétida de um vaso de flores mortas. Ela era bela quando meu pai a conheceu e ainda capaz de amar quando eu, filha temporã, nasci. Mas, naquele dia, ao me encarar com seus olhos vidrados, nada disso importava mais
Portanto, logo se vê que não é fácil nutrir qualquer simpatia por Helen. Mas, não se engane, porque a mãe, em estado avançado de demência, sem controle de suas funções fisiológicas, era extremamente cruel, também não é fácil de ser digerida.

Assim que mata a própria mãe, liga para seu ex-marido e confessa. Daí em diante Helen parece fora de si, e seu comportamento não ajuda, mais uma vez, a nutrirmos simpatia ou compaixão por ela. Primeiramente, vai à casa de uma amiga e faz sexo com o filho dela. Depois, vai ao trabalho, sabendo que, naquele momento, a polícia provavelmente está descobrindo o corpo de sua mãe. Algumas lembranças de seu passado vão surgindo, e mostrando um pouco da vida de Helen e, talvez, dando pistas sobre o motivo do assassinato. Algumas pinceladas sobre a os sentimentos que tinha, quando criança, pela mãe, que foi uma mulher bela e cobiçada, porém distante. Os primeiros sinais da demência, e talvez de depressão e síndrome do pânico, que afastaram mais ainda a capacidade de aproximação entre mãe e filha, o abismo sentimental que foi se formando entre elas. Há também a visão de Helen sobre seu próprio pai, a admiração profunda que tinha por aquele homem, e que a impediu de enxergar que também era ele, disfuncional, e com sérios problemas. O amor que o pai tinha pela mãe não dava abertura para uma internação ou tratamento, já que ele era extremamente condescendente com sua mulher. 

Helen foi, durante toda sua vida, incapaz de viver por si mesma, sempre fazendo algo por alguém. E se viu obrigada moralmente a cuidar de uma mãe pela qual tinha sentimentos ambíguos.

O livro possui falhas, ao meu ver. Algumas vezes fica arrastado, e há uma escassez de diálogos que, talvez, torne a leitura meio cansativa, para alguns. As idas e vindas não são tão bem amarradas quanto às de alguns autores, o que também contribui para a dificuldade na leitura. Mas é corajoso ao expor temas que geralmente jogamos para debaixo do tapete. Até onde realmente vai o amor entre pais e filhos? Isso é algo natural? E, independentemente da resposta, muitas vezes, o cuidado que temos não é natural, algo que fazemos espontaneamente, mas sim fruto de uma imposição social e cultural. Quantas coisas fazemos ou deixamos de fazer porque alguém pode achar alguma coisa? No fim das contas, a protagonista tinha estrutura psicológica antes e quando cometeu o crime? Seja qual for essa resposta, ela merece nossa compaixão?

2 comentários:

  1. Parece ser muito bom, vou procurar pra comprar aqui *-*. Adorei o blog.

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    1. É bom pra pensar nessas relações famíliares, sabe? volte sempre! bjo

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