quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sorte - Um caso de estupro - Alice Sebold

Alice Sebold escreveu, até o momento, três livros. O mais famoso, Um olhar do Paraíso, já virou até filme, e é o que eu menos gosto.

Sorte é o primeiro de seus livros e é, de certa maneira, um tanto autobiográfico. Relata o estupro que ela sofreu, aos dezoito anos, no campus da universidade que estudava. A primeira parte do livro é um relato cru, seco, sobre o ocorrido. A autora era virgem, morava no alojamento da universidade, depois de sair de casa, e do abrigo da família, um tanto fora do normal, para estudar. Daí em diante, narra-se a jornada da autora, tentando não se vitimizar, sobreviver, procurar justiça... o que nem sempre dá certo, então, você vai encontrar também relatos sobre uso de drogas e passagens sombrias, que vão te dar um panorama sobre a vida de Alice.
Sorte, por muitas vezes, tem uma escrita irônica, o que se percebe até mesmo pelo título, que se justifica por uma história que lhe foi contada por um policial, à época do estupro. Ele, talvez numa tentativa tosca de consolar Alice, diz que, naquele mesmo local, uma garota também teria sofrido o abuso, mas havia sido assassinada, assim, ela teve “sorte”.

Leio e vejo muita gente comentando que não é o tipo de livro que gosta de ler, que o assunto não atrai. Bem, obviamente, o tema não é fácil, e o livro está a anos-luz de ser considerado “chick-lit”, mas, acredito que o assunto deve ser encarado. O que, aliás, era o propósito da autora, que pretendia, de certa maneira, desmistificar a palavra estupro. E devemos dar razão a ela, afinal, essa palavra costuma ser dito baixinho, pessoas que são vítimas do abuso (hoje em dia, não somente as mulheres, já que a lei brasileira agora entende -ufa- que tal crime não é exclusivo), e que, infelizmente, muitas vezes as pessoas olham para as vítimas com olhares acusatórios, como se a vítima pudesse ter alguma culpa pelo ocorrido.
Então, obviamente, não é uma literatura fácil, para distrair o cérebro. E aí está seu trunfo. É triste, angustiante, faz pensar, dá raiva, dá nojo, mas também mostra que é possível sobreviver ao ocorrido, viver, e encontrar novos caminhos.

O chato é que é praticamente impossível conseguir esse livro, tem que fuçar muito na internet ou em sebos por aí... ou ter muita sorte em achar um exemplar perdido numa livraria. É mais fácil encontrar o Quase Noite, mas dele falaremos num outro post.

Nenhum comentário:

Postar um comentário